Os recursos genéticos são as espécies animais, vegetais e microbianas, aquáticas e terrestres, de valor (atual ou potencial) econômico, científico, social ou ambiental. Essas espécies são de grande importância: constituem a base biológica da segurança alimentar mundial e, direta ou indiretamente, apoiam a vida e os meios de subsistência de cada ser humano.
A conservação de recursos genéticos é uma atividade estratégica para a sustentabilidade da agricultura de uma nação e sua cultura alimentar e apresenta grande relevância para o Brasil. Conservar, caracterizar e usar a diversidade genética de plantas, animais e microrganismos na alimentação e na agricultura, sejam estes nativos ou exóticos, vem garantindo as opções para responder aos desafios atuais e futuros, permitindo a produção de alimentos e contribuindo para a redução da pobreza e a garantia da segurança alimentar em nível global.
No Brasil, diversas instituições de pesquisa federais, estaduais e municipais, públicas e privadas, além das comunidades tradicionais, populações indígenas e agricultores familiares (sistemas agrícolas tradicionais), desenvolvem atividades de introdução, coleta, intercâmbio, caracterização, conservação, documentação e informação em recursos genéticos no país. Com esse objetivo, diferentes estratégias para conservar os recursos genéticos surgiram ao longo dos anos, como as de conservação ex situ, in situ e on farm.
Tipos de conservação
Ex situ
Conservação e gestão de espécies fora de seus habitats naturais: manter e cuidar de populações de plantas, animais e micro-organismos em ambientes controlados, como bancos de germoplasma, jardins botânicos, zoológicos, aquários, herbários, viveiros e outros locais especializados.
In situ
Tipo de conservação que mantém as espécies em seu ambiente natural, incluindo os parentes silvestres de plantas domesticadas e aquelas utilizadas para o extrativismo. Estratégia complementar à conservação ex situ.
On farm
Modalidade particular de conservação in situ denominada on farm. Ocorre em ambientes mais manejados pelo ser humano (aldeias, fazendas de pequenos agricultores etc). São mantidas espécies e variedades muitas vezes trazidas de outras regiões, como os cultivos agrícolas e os animais de criação.
Uma razão muito importante para investir na estratégia de conservação in situ, como complemento da conservação ex situ, é que a primeira é dinâmica, ou seja, as espécies continuam a sofrer pressões do ambiente onde se encontram, permitindo que a evolução/adaptação continue a atuar e a selecionar variedades e espécies, sem congelar esse processo, como é o caso na conservação ex situ. Isto se torna ainda mais importante num momento em que os fatores ambientais vêm mudando de forma mais intensa.
Por um lado, as alterações climáticas mais intensas e a ocorrência de pragas e doenças podem causar a perda de muitas espécies e variedades in situ, pois o tempo de adaptação de determinadas espécies e variedades podem não ser suficiente para elas serem capazes de responder em tempo hábil a tais mudanças. Desse modo, se tais materiais estiverem conservados de forma ex situ, a preservação dessa diversidade fica mais assegurada.
Na verdade, a complementaridade entre as duas formas principais de conservação (in situ e ex situ) é de fundamental importância para a conservação dos recursos genéticos.
Confira nos web stories a seguir alguns exemplos da importância da complementaridade In situ - Ex situ:
Riscos de perdas de recursos genéticos
Um exemplo desse tipo de risco pode ser visto junto ao povo indígena Kayabi, onde historicamente produziam sal a partir da palmeira Inajá (Attalea maripa), em um processo bem trabalhoso. Com o contato com a sociedade envolvente, eles passaram a ter acesso de forma cada vez mais fácil ao sal marinho e, desse modo, a produção de sal tradicional caiu em desuso e hoje já não o fazem mais. Assim, aquela palmeira poderia ter seu “status” modificado, deixando de ser considerada um recurso genético (RG). Entretanto, ela ainda é um RG pelos outros usos que aquelas populações fazem dela, como o de uso de suas folhas para o telhado de suas casas.
Guardiões(ãs) de Sementes Tradicionais
Um Guardião de Sementes Tradicionais é uma pessoa ou grupo que desempenha um papel crucial na preservação e promoção da diversidade genética das plantas cultivadas. Esses indivíduos são dedicados à coleta, cultivo e proteção de variedades de sementes tradicionais que têm relevância cultural, histórica e agrícola em determinadas comunidades. As sementes tradicionais geralmente são variedades locais, adaptadas às condições específicas de solo e clima de uma região.
A prática de guardar sementes tradicionais ganhou destaque devido à crescente preocupação com a erosão genética e cultural. Os Guardiões de Sementes desempenham um papel vital na preservação da biodiversidade agrícola e na manutenção da resiliência das comunidades em face das mudanças ambientais e sociais.
Para conservar a agrobiodiversidade, além de conservar as sementes, é necessário contemplar todo o sistema agrícola e os respectivos saberes tradicionais associados aos recursos genéticos. Ou seja, seus ambientes, instrumentos e formas de utilização para que a conservação ocorra de maneira ampla, integrada e duradoura.
As principais funções de um Guardião de Sementes Tradicionais incluem:
Buscam e preservam variedades tradicionais de sementes, com sua diversidade genética e cultural, muitas vezes ameaçadas por: mudanças culturais; maior contato com sociedade envolvente e acesso a alimentos da cidade; “contaminação” com amostras de sementes de outras procedências; mudanças climáticas.
Além de preservar as sementes, os guardiões as cultivam, garantindo sua continuidade.
Fornecem sementes para outros agricultores(as) de sua comunidade ou mesmo de fora dela. Participam de redes locais e globais para compartilhar e trocar sementes, contribuindo para a preservação da diversidade genética e cultural em uma escala mais ampla.
Detêm conhecimentos tradicionais sobre o cultivo, manejo e uso das variedades de sementes que possuem. Esse conhecimento é transmitido de geração em geração e desempenha um papel importante na sustentabilidade agrícola.
Confira nos web stories a seguir alguns exemplos de Guardiões de Semente:
Vídeos
Kupá - Fortalecimento cultural e resgate de um alimento tradicional do povo Kayapó
Nos anos 2000, Megaron Txucarramãe, grande liderança do Povo Kayapõ e primeiro indígena a assumir o cargo de administrador de um território indígena no Parque Indígena do Xingu, procurou a Embrapa para buscar um alimento que seu povo havia perdido, chamado Kupá. Saiba mais sobre esse resgate alimentar, os sistemas agrícolas tradicionais (SATs) e a importância da preservação cultural.
Guardiões de sementes
Conheça os agricultores que plantam, preservam e distribuem variedades rústicas de espécies. Um importante trabalho de resgate social e segurança alimentar.
Povo Kayabi e o sal da palmeira Inajá - Documentário
Este documentário da Embrapa registra o resgate de uma tradição quase perdida do povo Kayabi, que reaprendeu a produzir sal a partir da palmeira Inajá. A prática, semelhante à do povo Waurá com o aguapé, mostra como populações indígenas do Xingu desenvolveram soluções próprias para obter sal em regiões distantes do mar e de minas salinas. A partir da memória oral e da articulação entre gerações, o vídeo acompanha esse movimento que revela não só um conhecimento técnico, mas também um importante processo de fortalecimento cultural.
Povo Kayabi e o sal da palmeira Inajá - Documentário
Este documentário da Embrapa registra o resgate de uma tradição quase perdida do povo Kayabi, que reaprendeu a produzir sal a partir da palmeira Inajá. A prática, semelhante à do povo Waurá com o aguapé, mostra como populações indígenas do Xingu desenvolveram soluções próprias para obter sal em regiões distantes do mar e de minas salinas. A partir da memória oral e da articulação entre gerações, o vídeo acompanha esse movimento que revela não só um conhecimento técnico, mas também um importante processo de fortalecimento cultural.
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Kupá - Fortalecimento cultural e resgate de um alimento tradicional do povo Kayapó
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Publicações
Nota técnica - Sementes Tradicionais
Nota técnica - Sementes Tradicionais
A presente nota técnica visa contribuir com agricultores e agricultoras familiares e técnicos e técnicas agrícolas, que adotam práticas de manejo agroecológico em agroecossistemas, realizando a conservação e multiplicação de sementes e mudas aqui chamadas de tradicionais.
Publicado: 10/03/2025
Sementes crioulas e famílias guardiãs
Sementes crioulas e famílias guardiãs
A publicação se destina às pessoas que se preocupam com a soberania e segurança alimentar e nutricional e presta homenagem aos guardiões e guardiãs da agrobiodiversidade capixaba, técnicos(as) e demais sujeitos que contribuem para o resgate, multiplicação e conservação das sementes crioulas. Pretende também despertar o interesse, sendo uma ferramenta de comunicação para a preservação das Sementes Crioulas, um patrimônio dos povos e comunidades tradicionais cuja conservação é um direito fundamental para a produção e reprodução da vida.
Publicado: 10/03/2025