A mandioca consegue produzir de forma satisfatória até mesmo quando cultivada em solos com más condições ou baixa fertilidade. Ainda assim, a planta é sensível a solos salinos, com pH alto ou deficiências de micronutrientes. Isso pode ser identificado pelos sintomas de amarelecimento uniforme das folhas e pela morte decrescente de brotos terminais (gomos que formam novos ramos na planta).
Essas práticas garantem maior produtividade e mantêm a fertilidade do solo adequada para o cultivo em rotação de culturas na mesma área, visto que a mandioca retira grande quantidade de nutrientes do solo.
Correção da acidez
Naturalmente, a maior parte dos solos brasileiros são ácidos, ou seja, apresentam pH baixo. Esse fator prejudica a disponibilidade de nutrientes e, consequentemente, o desenvolvimento das plantas. A correção da acidez é feita com a calagem.
A prática da calagem no cultivo da mandioca é importante também para repor o suprimento dos dois principais nutrientes absorvidos pela planta: o cálcio e o magnésio. Recomenda-se não ultrapassar a dose de 1 a 2 toneladas de calcário por hectare, principalmente se o teor de zinco no solo estiver de médio a baixo.
A aplicação deve ser realizada entre 30 e 60 dias antes do plantio em épocas chuvosas. Já nos períodos com menos chuvas, a aplicação precisa respeitar um intervalo de tempo maior. Deve-se incorporar o calcário em cerca de 20 centímetros de profundidade para aumentar o contato com as partículas do solo úmido e facilitar a reação de correção.
Adubação
Adubação nitrogenada
Aplicação de adubos orgânicos (estercos, tortas, compostos, adubos verdes e outros) como fonte de nitrogênio.
- Esses adubos podem ser aplicados em cova, no sulco ou a lanço, tanto no momento do plantio ou com alguns dias de antecedência.
- No caso da aplicação de uréia (45% N), sulfato de amônio (21% N e 23% S), estercos curtidos (1,5% N) ou compostagens, a aplicação deve ser feita em cobertura ao redor da planta, 30 a 60 dias após a brotação das manivas, com o solo úmido.
- Para mandioca plantada na estação chuvosa e em solos de textura leve, o parcelamento em duas aplicações (30 a 60 dias e 90 a 120 dias) pode minimizar perdas por lixiviação e aumentar o aproveitamento do nitrogênio pela cultura.
- Em mandioca de indústria colhida com 2 ciclos vegetativos (18 a 24 meses), aplicações moderadas de nitrogênio no início do segundo ciclo vegetativo (início da estação chuvosa) podem favorecer o restabelecimento da folhagem e aumentar a produtividade de raízes.
- Deve-se evitar exceder as doses acima de 50 quilos por hectare de nitrogênio para não promover a vegetação excessiva da cultura.
Adubação fosfatada
Aplicação de fertilizantes no solo para disponibilizar fósforo.
- O superfosfato simples e o superfosfato triplo são os adubos fosfatados mais utilizados e devem ser aplicados no fundo da cova ou do sulco de plantio.
- Quando se realiza a aplicação antecipada do potássio, o fosfato monoamônico (MAP) também é uma opção interessante de fertilizante, pois contém nitrogênio (9%) e fósforo (48%), mas não é indicado para solos relativamente ácidos.
- O uso de adubação orgânica, adubos verdes e cobertura morta favorece a população de micorrizas nativas do solo, que podem beneficiar a aquisição de fósforo do solo pela mandioca. Em geral, a resposta da mandioca ao fósforo é maior em solos pobres no nutriente, nos quais a dose ótima pode chegar a 100 quilos de pentóxido de difósforo (P2O5) por hectare.
Adubação potássica
- Deve ser aplicada na cova ou no sulco de plantio, juntamente com o fósforo.
- Os adubos potássicos mais utilizados são o cloreto de potássio (KCl) e o sulfato de potássio (K2SO4).
- Em solos muito arenosos, deve-se dividir o potássio em duas ou três aplicações, especialmente quando usam-se fontes solúveis e com elevado índice salino, como o KCl, pois tanto pode haver perdas por lixiviação, como danos ao sistema radicular absorvente pela salinidade do fertilizante.
- A adubação potássica pode ser parcelada entre o plantio e a cobertura, junto com o nitrogênio.
- Fontes alternativas de potássio, como rochas potássicas de menor solubilidade, devem ser aplicadas antes ou no momento do plantio.
- Algumas cultivares de mandioca de indústria respondem positivamente à aplicação de potássio no início do segundo ciclo vegetativo. As melhores respostas produtivas ao potássio ocorrem nos solos com baixos teores do nutriente. Nestes solos, a dose ótima de potássio pode variar entre 90 e 120 quilos de óxido de potássio (K2O) por hectare.
Micronutrientes
Nos períodos de grandes estiagens, principalmente no litoral do Nordeste, têm-se observado sintomas de deficiências de zinco (Zn) e de manganês (Mn), denominados de “chápeu-de-palha” e “amarelão”.
- Para evitar possíveis prejuízos na produção, nos locais de ocorrência recomenda-se aplicar no solo 4 quilos de zinco por hectare e 5 quilos de manganês por hectare (equivalente a 20 kg/ha de sulfato de zinco e 20 kg/ha de sulfato de manganês), juntamente com o fósforo e o potássio.
- Nas lavouras com deficiências já manifestadas nas folhas, deve-se pulverizar a plantação com uma solução que contenha de 2% a 4% dos produtos comerciais (sulfato de zinco e sulfato de manganês) diluídos em 100 litros de água.
- Quando se realiza calagem na área é imprescindível aplicar pelo menos 2 quilos de zinco por hectare para evitar deficiências.
Na região Centro-Sul, especialmente em solos de textura leve, tem se observado teores baixos de boro nos solos. Nessas condições, a aplicação de pelo menos 1 quilo por hectare de boro é recomendada para manter os níveis de produtividade sem esgotar os solos.
Recomendação de adubação para sistema orgânico
A adubação tem o objetivo de melhorar os atributos físicos, químicos e microbiológicos do solo, ou seja, a fertilidade do solo, para fornecer nutrientes às plantas. Na aplicação, deve-se preferir que cubram toda a área de plantio. Quando houver pouca disponibilidade do adubo, podem ser aplicados nas covas ou sulcos de plantio.
- As rochas silicáticas (40% a 60% de silício) também apresentam teores significativos de potássio, cálcio e manganês, atuando na correção da acidez do solo e fornecendo esses nutrientes às plantas.
- Adubação nitrogenada: recomenda-se a aplicação de 6 toneladas de esterco de gado curtido por hectare, ou 500 gramas a 1 quilo de esterco de curral curtido por planta no plantio.
- Adubação fosfatada: recomenda-se para o preparo de compostos orgânicos a aplicação de fósforo utilizando rochas naturais moídas (0,04 a 1,2% de P2O5) e farinha de ossos (15,5% de P2O5).
- Adubação potássica: o potássio pode ser fornecido por meio de estercos animais (bovino, aves, caprinos e suínos), raspa de mandioca, tortas de mamona, torta de algodão, manipueira e cinzas geradas por fornos industriais.
Sintomas de deficiência nutricional na mandioca
As deficiências nutricionais nem sempre causam sintomas de fácil identificação, mas reduzem o desenvolvimento da planta e a produtividade de raízes. Muitos produtores acabam não notando as deficiências e, com isso, a cultura não rende todo seu potencial.
- Deficiência de nitrogênio (N): Crescimento reduzido da planta; em algumas cultivares, ocorre amarelecimento uniforme e generalizado das folhas, que tem início nas folhas inferiores e, em seguida, atinge toda a planta. Há cultivares que se apresentam com tamanho reduzido, mas sem o amarelecimento típico das folhas.
- Deficiência de fósforo (P): Crescimento reduzido da planta, folhas pequenas, estreitas e com poucos lóbulos, hastes finas; em condições severas, ocorre o amarelecimento das folhas inferiores, que se tornam flácidas e necróticas (apodrecidas) e caem; diferentemente da deficiência de nitrogênio, as folhas superiores mantêm sua cor verde-escura, mas podem ser pequenas e pendentes.
- Deficiência de potássio (K): Crescimento e vigor reduzidos da planta, entrenós curtos, pecíolos curtos e folhas pequenas; em deficiência muito severa, ocorrem manchas avermelhadas, amarelecimento e necrose dos ápices e das bordas das folhas inferiores, que envelhecem prematuramente e caem; ocorrência de necrose e ranhuras finas nos pecíolos e na parte superior das hastes.
- Deficiência de cálcio (Ca): Crescimento reduzido da planta; folhas superiores pequenas, com amarelecimento, queima e deformação dos ápices foliares; escassa formação de raízes.
- Deficiência de magnésio (Mg): Clorose internerval marcante nas folhas inferiores, que tem início nos ápices ou nas bordas das folhas, e avançando até o centro; em deficiência severa, as margens foliares podem tornar-se necróticas; pequena redução na altura da planta.
- Deficiência de enxofre (S): Amarelecimento uniforme das folhas superiores, similar ao produzido pela deficiência de nitrogênio; algumas vezes, são observados sintomas similares nas folhas inferiores.
- Deficiência de boro (B): Altura reduzida da planta, entrenós e pecíolos curtos, folhas jovens verde-escuras, pequenas e disformes, com pecíolos curtos; manchas cinzas, marrons ou avermelhadas nas folhas completamente desenvolvidas; exsudação gomosa (aparecimento de fluido) cor de café nas hastes e pecíolos; redução do desenvolvimento lateral da raiz.
- Deficiência de cobre (Cu): Deformação e clorose (coloração verde claras ou amareladas) uniforme das folhas superiores; os ápices foliares tornam-se necróticos e as margens das folhas dobram-se para cima ou para baixo; pecíolos largos e pendentes nas folhas completamente desenvolvidas; crescimento reduzido da raiz.
- Deficiência de ferro (Fe): Clorose uniforme das folhas superiores e dos pecíolos, os quais se tornam brancos em deficiência severa; inicialmente, as nervuras e os pecíolos permanecem verdes, tornando-se de cor amarelo-pálido, quase branco; crescimento reduzido da planta; folhas jovens pequenas, porém em formato normal.
- Deficiência de manganês (Mn): Clorose entre as nervuras nas folhas superiores ou intermediárias completamente expandidas; clorose uniforme em deficiência severa; crescimento reduzido da planta; folhas jovens pequenas, porém em formato normal.
- Deficiência de zinco (Zn): Manchas amarelas ou brancas entre as nervuras nas folhas jovens, as quais, com o tempo, tornam-se áreas cloróticas, com lóbulos muito pequenos e estreitos, podendo crescer agrupadas em roseta; manchas necróticas nas folhas inferiores; crescimento reduzido da planta.
Sintomas de toxidez de nutrientes na mandioca
- Toxidez de alumínio (Al): Redução da altura da planta e do crescimento da raiz; amarelamento entre as nervuras das folhas velhas sob condições severas.
- Toxidez de boro (B): Manchas brancas ou marrons nas folhas velhas, especialmente ao longo dos bordos foliares, que posteriormente podem tornar-se necróticas.
- Toxidez de manganês (Mn): Amarelecimento das folhas velhas, com manchas pequenas escuras de cor marrom ou avermelhada ao longo das nervuras; as folhas tornam-se flácidas, pendentes e se desprendem.